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A aventura

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Antes mesmo de chegar em Grenoble, a cidade pra onde me mudei nos alpes da França, a aventura já tinha começado, e a minha vontade e sede de viver aquela experiência não podia esperar. A primeira cidade em que cheguei em território francês foi Marseille, no sul da França, onde fiquei 1 dia. No dia seguinte, peguei um trem de lá pra ir pra Grenoble. O trajeto do trem não era direto, ele faria uma parada numa cidade chamada Valence, perto de Grenoble, e dali eu desceria e pegaria outro trem pra fazer conexão (o que em francês chamamos de “correspondance”). Desci em Valence, localizei a parada do meu próximo trem e, no calorão do fim do verão europeu que estava fazendo, cheguei com o radar ativado procurando desesperadamente qualquer lugar que vendesse uma garrafa d’água. Pra ir na minha caça à água, estacionei minhas 3 malas gigantes ao lado de um menino.

Analisei o ambiente pra escolher quem poderia ser confiável e potencialmente simpático pra cuidar dos meus pertences por 5 minutinhos, e ele parecia uma escolha segura. Abordei em francês, perguntei se ele poderia dar uma olhadinha enquanto eu ia comprar água, ele disse que sim, sem problemas, tudo certo. Voltei com minha água, agradeci a gentileza de ficar de olho, e aproveitei pra puxar papo pra gastar meu francês. Regra número 1 de experiências no estrangeiro: não perca a oportunidade esperando a atitude do outro e sempre tome a iniciativa do papo! Sempre! Crie a conversa, puxe assunto, demonstre interesse, faça a situação acontecer, não espere por ela! Não tenha medo de viver o que tu quer viver, é só uma conversa e, muitas vezes, os europeus ou estrangeiros no geral estão só esperando isso da gente, porque são tímidos ou reservados demais pra começarem, mas uma vez que você demonstra interesse, eles se abrem! Papo vai, papo vem, descobri que ele era francês, e que também estava se mudando de outra cidade da França pra ir também pra Grenoble.

Começamos a falar sobre fatores de mudança, e, inevitavelmente, falamos de alojamento: eu comentei que não tinha apartamento ainda, na verdade nem o hotel tinha reservado ainda (já sabia pra qual iria me dirigir, mas confio sempre na minha intuição e misticamente, no fundo de mim, sei que as coisas sempre vão dar certo, e, vibrando nessa energia, elas dão! Tente experimentar encarar a vida pensando que as coisas vão sempre dar certo, e se surpreenderá). Ao falar isso, um outro francês que também estava ali na mesma parada de trem, escutou a conversa e participou do nosso papo, dizendo que o dono do apartamento que ele era locatário, tinha outro apê logo ao lado com vaga pra alugar, e me ofereceu pra me dar o contato. Vim conversando com os 2 franceses a viagem toda de trem pra Grenoble, e pensando o quão mágico e improvável era estar vivendo aquele momento daquela forma: que incrível e surreal o que acontece quando pegamos as rédeas da vida com as nossas mãos e decidimos fazer ela acontecer!

E se eu achava aquilo já empolgante, eu mal sabia o que me esperava quando chegasse na cidade de destino…Ao chegar na estação de trem de Grenoble, os franceses me ajudaram com as malas escadaria acima e abaixo – os estrangeiros são extremamente gentis e abertos, e vão te surpreender! Um deles me deu o contato do dono do apartamento – que, visitando no outro dia, amei e se tornou o meu apartamento, mas essa é história pra outro momento…E o outro francês do trem me disse: meus amigos franceses estão vindo aqui me buscar, você quer carona até o seu hotel? Senti uma sensação boa, que não teria perigo, e disse sim! (Sempre analise e observe o que você sente) Quando vi, estava ali em outro momento improvável e incrível: numa van, com mais 3 franceses, falando francês pelos cotovelos com 10 minutos na cidade. A conversa fluiu tanto que, chegando lá no endereço do hotel que passei pra eles, eles além de me ajudarem com as malas, me falaram: a gente vai sair mais tarde pra comer alguma coisa, você quer vir com a gente? Não pensei duas vezes, e disse sim! Lá estava eu, dizendo sim pra vida, e vivendo mais um momento incrível e inesperado.

Mais tarde, eles passaram no hotel pra me buscar e fomos jantar no centro da cidade, com mais outros 2 amigos franceses deles. Era de me beliscar: parecia um sonho que, à algumas horas eu estava no Brasil, em Uruguaiana, sentada no meu quarto, cercada de Português pra todo canto que o ouvido alcançasse, e pouco tempo depois estava ali, numa mesa de restaurante no centro de uma cidade nos alpes da França, jantando e conversando com 5 franceses que conheci naquele mesmo dia, e ainda explicando sobre o ABC pra eles! Eles perguntavam interessados sobre a cultura brasileira e também explicavam pontos da cultura francesa. Perguntavam sobre os tipos de comida, de música, o que existe lá, quais as diferenças pra França, porquê escolhi a França, como aprendi tantos idiomas e falava tão bem francês (segundo eles como nativos) em tão pouco tempo e o que era esse tal de ecossistema 360o de aprendizagem de idiomas que eu criei…Ali eu percebi: idiomas é isso aqui. Idiomas não é (só) a regra de gramática, a posição onde fica o advérbio, a lista de adjetivos…idiomas não se aprende, idiomas se vive! E vivemos, através deles, os melhores e mais especiais momentos da nossa vida, daquelas memórias douradas que gostaríamos de imprimir do nosso cérebro e ter num porta retrato ou num vídeo pra dar replay e revisitar.

Quando aprendemos idiomas, estamos nos preparando pros melhores momentos da nossa vida. Estamos nos preparando pra nos permitirmos sermos abraçados pelo improvável e surpreendente da vida. Foram momentos extremamente simples, mas voltei pro hotel aquela noite com um sentimento gigantesco de gratidão no peito: gratidão a mim mesma, que um dia decidi aprender idiomas, e pude, naquele dia, viver aquele dia na minha vida, do jeito que ele aconteceu. Chorei de felicidade e gratidão. Eu agradeci a minha eu do passado, por ter permitido que essa eu de hoje existisse. Faça isso pela tua eu do futuro, pra que ela te agradeça. Você pode ter certeza que ela vai.

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