Dia 18.08.22 embarquei pro meu sonho. Nunca vou esquecer da sensação de parar na frente do portão de embarque, logo depois de despachar 3 malas enormes, que, a partir dali, seriam tudo o que eu teria de casa. Casa…ali, essa palavra se tornou volátil. Casa pode ser as coisas que carregamos conosco numa mala. Casa pode ser a gente mesmo. Casa é como, a partir dali, decidi chamar o mundo: minha casa. Antes de entrar correndo em direção a essa viagem que eu esperei a minha vida inteira pra embarcar, eu parei um tempo em frente ao portão de embarque, e decidi viver aquele momento, na sua simplicidade, intensidade e na beleza de que nunca mais se repetiria, não da mesma forma, nunca mais, não importa quantas outras viagens eu fizesse e quantos outros portões de embarque eu cruzasse. Era único. Não é todo dia que embarcamos pros nossos sonhos, não é mesmo? Observei bem tudo em volta de mim. Eu lembro de como o sol entrava tímido e estratégico através das janelas de vidro do aeroporto naquela manhã, e refletia no piso do hall, iluminando tudo com um tom de nostalgia e magia no ar.
Era daquelas sensações parecidas com uma manhã de natal, como se tudo fosse possível, sabe? Era um sentimento tão misto dentro do peito: uma euforia pelo que viria, uma felicidade que fazia eu sentir a minha alma sorrindo de ponta a ponta, e também uma sensação de despedida com gosto de gratidão. Despedida não só do meu país, mas de uma fase e de uma parte de mim. Da parte daquela menina teimosa, que bateu o pé e defendeu o plano de tirar do papel um sonho em que ninguém em volta entendia ou acreditava.
Daquela menina que se viu com medo em muitas madrugadas acordadas estudando idiomas sozinha no quarto, preenchendo documentos que nunca viu antes na vida em outra língua ou mandando centenas de e-mails pra universidades do outro lado do mundo. Daquela menina que até unha postiça usou uma época de tanto que roeu as unhas de nervosa esperando as respostas das universidades depois de aplicar. Daquela menina que chorou escondida com medo que tudo fosse em vão, que nada desse certo, e pelo processo ser tão solitário, duvidoso, incerto, e ter tanto em jogo. Daquela menina que passou por uma transição de carreira, ouviu o julgamento e a opinião não solicitada dos outros quando decidiu empreender, quando decidiu aprender inglês, quando decidiu aprender francês, quando decidiu morar fora. Daquela menina que fez incontáveis horas de imersão no idioma alvo todos os dias, que se dividia numa rotina que começava as 6h da manhã com voluntariado no México pra ensinar inglês e francês, e terminava as 23h da noite, pra planejar o dia seguinte.
Daquela menina que, nos fins de semana, trocava o descanso por encontros virtuais com seus language partners pra desbloquear o speaking, porque entendia, desde lá, que por cansativo que fosse, a melhor estratégia era usar o fim de semana não pra fugir da vida que se tinha, mas pra se construir a vida que se quer ter. Daquela menina que agarrou os seus sonhos, colocou eles numa mala e levou eles à tiracolo e pegou um avião pra cruzar o Brasil afora pra fazer prova de proficiência, pra tirar visto, e agora…pra embarcar pro seu sonho.
Antes de olhar pra frente do portão de embarque, eu olhei pra trás. Contemplei, em silêncio, mentalmente, todo o caminho até chegar ali, e sorri com gratidão, por aquela menina que não desistiu em nenhum desses desafios e dias difíceis. Foi ela que me permitiu estar ali parada naquele portão de embarque, naquele dia, naquela momento, contemplando a beleza daquele aeroporto, na frente do portão de embarque internacional. Eu não sabia como seria esse momento, como seria estar ali, mas era o fato de cultivar na minha mente, em pensamento, pra mim, a certeza da existência dele, com tanta força e fé dentro de mim, que me permitiu, no olho do furacão, chegar até ele. Acreditar é o primeiro passo, e o 1o a precisar acreditar na gente é a gente mesmo. Na verdade, é tudo o que precisamos. O resto é bônus. É o nosso sonho, afinal de contas.
Não precisa fazer sentido pro outro, e tudo bem. Ele vai entender quando te ver feliz e realizado. E, se não entender…você já sabe o que fazer com ele, né? Naquele 18 de agosto de 2022, eu passei no portão de embarque com o passaporte brasileiro em mãos, uma mochila nas costas cheia de coragem e sem a menor ideia do que me esperaria do outro lado. Agora que te escrevo essa carta, já vivi algumas aventuras do portão de embarque pra cá, e é exatamente sobre elas que vou te contar muitas delas nas próximas cartas.
Seja bem vindo ao portão de embarque do ABC, aqui é a capitã Natália falando. Aperte bem os cintos, nossa viagem está apenas começando, explorador.
Te vejo na próxima escala, ou melhor, na próxima carta.
Com carinho,
Natália Duarte